sábado, 13 de janeiro de 2018

Daúde

"Nasci numa cidade abençoada.
Vivi num gueto onde o cantar dos grilos, dos galos e o barulho do brejo eram de pura sinfonia.
Talvez por isso tenha a alma lavada e repleta de música.

Passei minha infância ouvindo meu avô e os meus tios seresteiros tocando e cantando. Sinhô, Lupicínio, Luiz Gonzaga, Erivelto Martins, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Jararaca e Ratinho e tantos outros.

Meu pai, com a sua discoteca, me apresentou a Martinho da Vila, Mestre Marçal, Monsueto, Jackson do Pandeiro, às músicas sertanejas, a Pixinguinha, Villa-Lobos, a todos os hinos militares (o hino da marinha era o mais bonito!), às big bands, aos sambas de roda e a seu repertório saxofônico e clarinêtico.

Minhas tias me ofereceram Roberto Carlos, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Vanderléia, Vanusa, Antônio Marcos, Gil, Gal, Bethânia, Caetano, Chico Buarque, Rolling Stones, Beatles, Serge Gaisbourg (J'ai taime moi non plus), Jorge Ben (Ela não gosta mais de mim, mas eu gosto dela mesmo assim, que pena! ), Leno e Lilian, MPB 4, Eduardo e Silvinha Araujo e por aí vai.

Minha mãe ofertou com carinho Dalva de Oliveira, Ângela Maria, Claudia Barroso, Núbia Lafayete, Nicinha Batista, Elizete Cardoso, Dolores Duran, Emilinha Borba e Marlene, todos os hinos religiosos e as cantigas de ninar.

Já no Rio, a cultura de rádio na minha adolescência foi fatal e total. Pela primeira vez, através do projeto Minerva, escutei Patativa do Assaré. As rádios Tamoio e Mundial incumbiram-se de me apresentar Marvin Gaye, Barry White, James Brown, Stevie Wonder, Diana Ross, Tina Turner, Donna Summer, Tanita Tikaran, Michael Jackson and Jackson Five, Chaka Kann, Santana, Sta. Esmeralda, Slade, Genesis, The Who, Pink Floyd, Lou Reed e Roberta Flack.

Vi a MPB estourar nas FMs. Novos Baianos, Secos e Molhados… dançava e cantava todas as músicas de cor e salteado. Assim, decidi mesmo cantar e passei a perceber as técnicas usadas pelos cantores.

Todas essas influências fazem parte da minha vida. Todas tão naturalmente presentes e necessárias, quase orgânicas."

Daúde
 

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